Uma falcoeira do Brasil para o mundo – Alessandra Oliveto

Comecei um pouco tarde na Falcoaria, infelizmente nenhum dos meus parentes ou amigos próximos da minha adolescência eram Falcoeiros. Tive que fazer uma busca por conta própria e aprender a melhor forma como poderia ingressar nesta nobre arte. Depois de ter feito o curso com os “formadores” da BH Hawking Club e ter participado em vários encontros de Falcoaria, adquiri a minha primeira ave, um Búteo de Harris (Parabuteo unicinctus). Foi então que com a ajuda do meu tutor Dorival Lima iniciámos o seu treino, e logo a seguir tive que ir para Maceió (Brasil), para trabalhar no controle de Fauna.

“Eu sempre amei Animais silvestres…e na altura fiz um curso de “manejo” de serpente no Ministério do Meio Ambiente (órgão ambiental) da minha cidade. Na altura havia vários cursos abertos, e um deles, era a introdução à Falcoaria, ministrado pelo BH Hawking Club. Foi então o primeiro contacto que tive com a arte da Falcoaria e nunca mais me afastei”.

Numa viagem comigo e o Dorival , começamos a discutir mudanças e desejos para a Associação Brasileira de Falcoaria(ABFPAR), da qual éramos sócios, e no meio da conversa, surgiu a ideia de formarmos uma outra Associação, foi aí que surgiu a Associação Nordeste de Falcoaria.

 

Após alguns meses, enquanto assistia a um documentário sobre o Grupo Mujeres Cetreras Mexicanas, comentei com amigos que gostaria muito de morar no México, pois tinha achado o dito grupo muito legal. Foi então que me questionaram o porquê de não fazer também um grupo no Brasil, de modo a incentivar outras mulheres. E assim surgiu o Falcoeiras BR, onde convidei as minhas 4 melhores amigas brasileiras para fazerem parte dele. Gostaram tanto da ideia, que aceitaram de imediato.

“Juntando o trabalho e todas as tardes em campo, vivíamos 365 dias de manejo de aves e Falcoaria na sua maior e mais Nobre e Real forma”

Foi na Associação nordeste que lançamos o primeiro livro de Falcoaria em Português (Brasil), e foi devido ao livro, que eu entrei em contacto com Dianne Moller (ex-WWG chairwoman), onde ficámos amigas e trocávamos informações sobre o Brasil e o mundo.

O meu inglês era péssimo, mas Dianne sempre foi muito paciente e compreensiva. Um dia Dianne convidou-me para fazer parte da WWG como delegada do Brasil, e foi aí o meu primeiro contacto…um grupo de mulheres mais extraordinário que conheci. Infelizmente, Dianne e as outras associadas fundadoras, tiveram que sair do grupo, para trabalhar em projetos particulares em seus respetivos países e decidiram através de votação, que eu seria a nova presidente. Elas ainda hoje, continuam dando suporte ao grupo e participando com novos projetos.

 

Dianne Moller, Véronique Blontrock, Alessandra Oliveto, Elisabeth Leix, Ellen Hagen no Encontro da Alemanha em 2018(Frank Seifert).

 

Estes foram os meus primeiros passos dentro da IAF que contínuo apoiando até hoje, e durante 7 anos ocupando diferentes cargos.

Neste 7 anos a IAF abriu- me várias PORTAS, conheci várias pessoas que me consideram como parte da família , fiz grandes amigos !! Amigos estes, que me ajudam onde quer que eu vá. Tenho muita sorte por a atividade de Falcoaria ter colocado esses Falcoeiros, Treinadores de Aves e Aviculturistas no meu caminho, porque acima de tudo são seres humanos magníficos com muito amor à minha Falcoaria e me ajudaram a descobrir o meu lado melhor e a crescer como ser humano.

 

Primeiro Encontro de Falcoaria em Minas Gerais (Brasil)

 

Minha falcoaria é bem eclética, mas a ave que eu voei por mais tempo foi um Parabuteo que permaneceu comigo por 4/5 anos. Já voei Aplomados, Parabuteo, Peregrino, Lanário, Gerifalte X Sacre e algumas outras espécies.

De todos os que voei, eu prefiro o voo maluco e malicioso dos Aplomados em perseguição aos Vanellus (Quero-quero), mas socialmente falando, o Parabuteo ganha o meu coração, por permitir que voemos alguns indivíduos juntos, e isso faz com que passamos compartilhar momentos de alegria com amigos que voam a mesma espécie.

A Associação nordeste realiza competições no encontro anual. No primeira encontro fiquei em primeiro lugar com meu Parabuteo “Tanatus”. No segundo ano de competição, Tanatus ficou em terceiro lugar e foi realizada a primeira competição de lure-fly (passagem ao roll) e eu fiquei em segundo lugar com Ali (Falco femoralis).

Atualmente e infelizmente já não participo mais em competições e tenho o cargo de juíza das provas.

“Eu tenho que dizer do ponto de vista da Falcoaria sou fascinada por Aplomados (Falco femoralis) eles são pássaros fantásticos, amigáveis, loucos, caçadores incríveis e muito engraçados. Do ponto de vista da beleza é o Spizaetus ornatus, tenho muita vontade de ver o potencial de caça desta espécie também”.

Eu penso que a Falcoaria, nos tempos de hoje, está numa fase de mudança e a adquirir novas características agregando novas tecnologias. Os novos Falcoeiros estão a interagir mais através das redes sociais, compartilhando ideias, ideologias e detalhes de treino. Muitas vezes deslocando-se para encontros em outros países, fazendo com que a Arte seja mais difundida através das diversas culturas e principalmente chegue mais rápido para o público Leigo.

Considero bastante importante esse tipo de “Marketing” na Falcoaria, desde que este seja feito com cautela e se tome as devidas precauções quanto á exposição da arte. Não podemos forçar as pessoas a entenderem a nossa prática, mas podemos fazer com que nos respeitem, através do respeito que temos pelos nossos parceiros de campo e suas presas.

No campo feminino é importante salientar que sempre estivemos presentes na Falcoaria desde o tempo dos reis e rainhas, simplesmente a divulgação nesses documentos é pequena, já que era um desporto maioritariamente masculino.

Nos dias de hoje, a internet funciona um pouco como propulsor dessa divulgação, através do apoio incondicional e de grande importância de Associações como IAF, o Women’s Working Group, a Associação Portuguesa com o grupo Falcoaria no Feminino, o Clube Female Falconers na Inglaterra e a NAFA e outras associações e clubes com suas constantes publicações suas associadas.

No passado, mulheres fundaram associações como é o caso da APF, e hoje muitas mulheres, ocupam cargos importantes em grandes Associações de Falcoaria e Conservação de Aves de Rapina no mundo inteiro, o que reforça a minha ideia de que sempre estivemos presentes e actuantes na arte da Falcoaria.

Ellen Hagem (vice-presidente WWG) e eu temos um importante projecto chamado “Mulheres Falcoeiras ao longo da história ( WOMEN FALCONERS THROUGH HISTORY)“ irei falar um pouco mais abaixo sobre o porquê das mulheres neste livro.

Deixo aqui o link para poderem ler um pouco mais: wwgiaf.wixsite.com/wwgiaf/single-post/2019/03/08/INTERNATIONAL-WOMENS-DAY

Tenho vários projetos ativos em parceria com várias associações do mundo todo, citarei algumas:

  • Falcoaria BR – Fundei o grupo feminino com mais 5 amigas, e o grupo serve como base para as discussões e trocas de informações sobre treinamento de aves e Falcoaria.
  • Women’s Working Group – O grupo de trabalho das mulheres faz parte da Associação Internacional de Falcoaria (IAF), trabalhamos para ajudar as mulheres que praticam a Falcoaria em todo o mundo, através de educação, promoção, criação de redes e mentoras. Temos ainda delegadas em vários países e elas são responsáveis por nos manter atualizadas sobre a Falcoaria Feminina em seu país.
  •  International Association for Falconry – na Associação Internacional eu ocupo alguns cargos como Editora da Newsletter (semestral) e atualmente ocupo o cargo de líder do grupo de comunicação e relações públicas.

Para saber mais sobre os projetos do WWG e da IAF é só enviar-me um e-mail:
alessandra@iaf.org

“Falcoaria é um estilo de vida”

 

Dentro da Associação, eu procuro ajudar em todos os projetos e todos os grupos, pois vejo essa ajuda como benéfica para a Falcoaria Mundial e consequentemente reflete beneficamente o Brasil, mesmo não estando fisicamente lá.

  • IUCN/Naturalliance– Faço parte do grupo de trabalho de Comissão de Ecossistemas. Este grupo está ligado diretamente à conservação de espécies e de seus habitats.

Eu não acho o ambiente da Falcoaria machista, e sim, que é mais a nível individual de cada um, do que um problema associado à Falcoaria.

Tenho ainda que agradecer a todos os países que visitei, os falcoeiros em geral, terem sido sempre muito recetivos e prestáveis. Claro que eu já me vi envolvida, em dois ou três episódios de “desrespeito” por ser mulher e praticar Falcoaria, ou por gerir um grupo feminino.

O projeto do WWG “Mulheres Falcoeiras ao longo da história (WOMEN FALCONERS THROUGH HISTORY) “que está na sua segunda edição, e está sendo realizada com louvor por Ellen Hagen, foi idealizado após o episódio de desrespeito comigo e com o WWG.

Ao longo da minha Vida, e com base na aprendizagem destas experiências totalmente negativas, foram muitas vezes, o motor de arranque, para me incentivarem a dar uma resposta positiva, mostrando o meu trabalho e inclusive as minhas qualidades no treino e caça com aves de rapina.

Quero muito agradecer ao grupo feminino da APF pela oportunidade de ter podido responder a algumas perguntas, e dar os parabéns a todas Vocês, pelo trabalho incrível que têm vindo a desenvolver. Obrigado á APF e a todos os seus diretores pelo Incentivo dado ao grupo feminino e pessoalmente, por sempre apoiarem o trabalho do WWG.

WWG Facebook – htt://www.facebook.com/wwgiaf/ WWG Instagram – @wwgiaf

Texto : Alessandra Oliveto para o Grupo Falcoaria no Feminino

Pode ler aqui o manifesto de criação do Grupo Feminino da APF 

Quer saber mais sobre a Falcoaria: O que é a falcoaria?

Aceda aqui a mais informação sobre a APF

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