Falcoeiro como nós – José Sampaio

“Após ver os vídeos do Félix, e de ouvir dizer, quase um boato…que havia quem tivesse falcões para caçar em Portugal…”

 

O meu início

A primeira vez que tive conhecimento de que era possível adestrar aves de presa para caçar, foi como muitos da minha geração, pelos vídeos de « Félix Rodriguez de la Fuente, » no programa «O Homem e a Terra ».

Na altura comprei a cassete de VHS ‘’ Altanaria’’ e estava sempre a revê-la, também ,porque não tinha assim tantas cassetes. Ficava absorvido por todo aquele trabalho de equipa, onde o caçador parecia quase só espectador, mas que preparava tudo com muita minúcia.

“Podia dizer que sou Falcoeiro desde que tenho memória, pelo menos já vejo lances desde muito pequeno. A diferença é que os falcões não eram meus, mas os pombos eram do meu pai.”

Na altura eram todos “milhafres”, os que atacavam os pombos. Havia o do rabo comprido (Açor) que não era o pior, mas o das asas afiadas (peregrino) era o terror, entre os que levava, os que se estampavam na fuga, era comum ver grandes lances.

Após ver os vídeos do Félix, e de ouvir dizer, quase um boato…que havia quem tivesse falcões para caçar em Portugal, tive conhecimento da Copa Ibérica de Cetraria em Macedo de Cavaleiros e fui. No primeiro ano andei por lá só a ver e não abordei ninguém.

Depois encontrei a APF nas pesquisas que fazia sobre falcoaria e fui fazer o curso de iniciação. Foi importante pelo que aprendi e por poder confraternizar com falcoeiros que já tinham muitas histórias e experiência para contar.

De seguida, fiz o exame de especificação de Cetreiro para acrescentar á carta de caçador que já tinha e, comecei a criar condições para ter uma ave.

 

As minhas primeiras aves, lances e encontros

 

Desde que fui buscar a minha primeira ave, uma fêmea de Harris que ainda tenho hoje, foi sempre a aprender, a tentar levar toda a “receita” à risca e muitas vezes a fazer asneira… umas vezes por medo, outras por tentar fazer coisas que lia e que não se ajustavam à situação e outras ainda por completo desconhecimento.

A próxima experiência foi ter um macho, também de harris para voar em copla, da qual tenho muito boas recordações.

O passo seguinte, que confesso metia-me algum receio, e com alguma razão foi a Altanaria. Comecei na altura com um peregrino e até consegui alguns voos bastante bons.

Participei ainda em alguns encontros da APF e na Copa Ibérica de Macedo. Apesar de serem conceitos bastante diferentes, vou para os dois com o mesmo objetivo : ver voar pássaros, e conviver com cetreiros, o que raramente acontece fora destes encontros.

Os encontros da Associação são a oportunidade de estar com quase todos os praticantes do país, apesar de Portugal ser um país pequeno, não é fácil juntar gente de tantos lugares diferentes!

Estes encontros não servem só para ver pássaros a voar, mas também para nos reunirmos e tentar resolver os problemas que surgem, assim como, tentar manter a cetraria e a APF bem vivas.

Os encontros da Copa Ibérica são praticamente de dois dias a ver voos, de manhã até ser noite, e alguns com um nível altíssimo. Participo neles desde que tenho ave… e mesmo sabendo da diferença que há para os que ficam classificados nos primeiros lugares, inscrevo-me sempre para fazer e dar dimensão a um evento que espero que continue e que cresça.

 

A prática

Já pratiquei alto-voo e baixo-voo. O lance que me enche as medidas é um falcão no céu e o cão parado às perdizes.

Cada vez mais vejo essa falcoaria como uma utopia para mim, por todas as condições que essa caça requer e que não vejo poder reunir pelo menos num futuro próximo. O meu interesse pela caça tem muito a ver com o cão, e se caço com arma de fogo é por causa dessa parceria.

Na cetraria são uma mais-valia, podem até estragar alguns lances, mas ver a ligação da ave que já sabe ler o cão muito primeiro que nós, e o cão que mesmo cheio de vontade de agarrar a peça respeita a ave, faz dessa equipa de caça improvável um dos pontos mais altos da experiência.

Um lance de Falcoaria inesquecível foi quando, peguei no casal de harris para soltarem as asas, nada de muitas expectativas, a ideia era andarem por ali de árvore em árvore e recolher.

Passado um tempo, já nem sabia onde andavam, vem um coelho na minha direção com os pássaros na cola e entra por baixo de umas pedras grandes praticamente por baixo de mim. Começou o trabalho de equipa, mas entre eles, que eu nem me mexi.

A fêmea foi arranjar um ponto de vantagem alto, enquanto o macho fazia de furão e de cão em simultâneo, entrando pelos buracos nas pedras e fazendo sair o coelho que foi cobrado pela fêmea já mesmo a entrar noutro refúgio. Este é um lance que mesmo não sendo pouco comum nos Harris deixou-me a vibrar.

Não tive muitas aves assim, mas o Baco, um peregrino, que teve um acidente quando entrou num carvalhal em perseguição a um pombo deixou saudades. Era já um pássaro muito fiável, nem sempre voava muito, mas eu gostava muito de o ver e penso que ainda iria evoluir.

“Um livro que me influenciou na falcoaria foi o « The Flying of Falcons de Ed. Pitcher » fez alterar algumas formas de ver a falcoaria, e abriu a janela imaginária para aqueles cenários e lances que ele descreve e que nos faz transportar para lá.” 

 

O nosso futuro

Na evolução que a Falcoaria teve até agora, parece-me que estamos numa curva ascendente. Vejo pessoas novas a tentar começar, apesar de todos os contras que nos impõem.

Acho a tecnologia uma mais-valia nas telemetrias e GPS, já nas presas mecânicas e utilização de drones e outros meios artificiais para treino e competição não me despertam interesse, mesmo percebendo as vantagens que possam ter.

No presente julgo que temos mais informação, partilha de conhecimentos, facilidade de obter aves, deslocações mais rápidas. Mas também menos tempo para praticar, terrenos inadequados, pelo menos para a altanaria, onde geralmente não somos bem recebidos e onde as presas selvagens são cada vez mais reduzidas.

 

Ficha técnica:

Entrevista com José Carlos Sampaio para Associação Portuguesa de Falcoaria

Autor: Grupo Falcoaria no Feminino

Correção Ortográfica: Cristina Meireles

 

Saber mais:

Pode ler aqui o manifesto de criação do Grupo Feminino da APF 

Quer saber mais sobre a Falcoaria: O que é a falcoaria?

Aceda aqui a mais informação sobre a APF

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