Como vim para o mundo da falcoaria – Ellen Hagen

Falcoeira Hellen Hagen

“Não conhecia ninguém, e nada sobre falcoaria, tudo era novo para mim. Nunca na minha vida tinha sequer visto de perto uma ave de rapina, e fiquei assoberbada quando comecei a investigar. Fiquei fascinada pelas aves, pelo seu comportamento, pela sua beleza.

 

História

Sempre me senti atraída por aves!

Tive agapornis como animais de estimação na minha infância, e quando finalmente tive a minha própria casa com um jardim, tive galinhas. Para mim, sempre existiram apenas dois tipos de relações com pássaros, ou como animais de estimação, espécies domésticas, ou selvagens e ‘distantes’.

Nada sabida acerca da falcoaria até aos meus vinte e poucos, nem sequer conhecia a palavra. Lembro-me de ouvir falar, de vez em quando, que havia ali uma águia ou um falcão com um humano, e uma memória vaga das antigas revistas da National Geographic acerca da relação dos mongóis com as suas águias.

Não sabia, que fora da Noruega, a falcoaria era praticada por milhares de pessoas ainda hoje. Foi quase ao acaso que “a encontrei”. Trabalho num museu na Noruega, no Arkeologisk Museum, da Universidade de Stavanger, onde investigamos e trabalhamos as nossas tradições ancestrais, na sua maioria artesanato relacionado com arqueologia experimental. Fiquei fascinada pela forja, mas para isso também foi difícil de encontrar um mentor, por isso foquei-me noutros interesses – a falcoaria. Queria perceber do que se tratava, uma vez que, na Noruega, temos algumas sepulturas com aves de rapina. Não conhecia ninguém, e nada sobre falcoaria, tudo era novo para mim. Nunca na minha vida tinha sequer visto de perto uma ave de rapina, e fiquei assoberbada quando comecei a investigar. Fiquei fascinada pelas aves, pelo seu comportamento, pela sua beleza.

Viajei muitas vezes para aprender em Inglaterra, mas foi quando um ano mais tarde, viajei para a Alemanha e conheci Elisabeth Leix, agora uma grande amiga, que realmente aprendi sobre falcoaria e a caçar. Estava, e continuo a estar, totalmente enfeitiçada pela relação que uma pessoa pode ter com uma ave de rapina, e pela adrenalina que sentimos quando vemos uma ave a caçar. A falcoaria tem a ver com a natureza e eu só me sinto-me humildemente grata por fazer parte dela, a ave é sempre o elemento fulcral, e gosto do quanto significa a nível pessoal, poder fazer parte destes momentos. Até fiz o exame de caça na Noruega por causa da falcoaria. Viajei durante anos para criar uma rede de contactos, para aprender diferentes tradições de falcoaria e para ser capaz de praticar falcoaria sozinha. O apoio tem sido tremendo, e se eu não tivesse tido pessoas como a Elisabeth que se disponibilizaram para ajudar, teria desistido da falcoaria. Isto porque era difícil ser o único na Noruega com este desígnio, mas também isso está a mudar.

 

Falcoaria na Noruega

Pessoalmente penso que é bastante benéfico termos conhecimento da falcoaria desde jovens, que ela existe, porque eu vivi demasiado tempo sem ter esta noção. Há uma razão pela qual a UNESCO reconhece a falcoaria como património intangível, porque é transmitida de uma pessoa para outra, aprende-se. Há muito tempo atrás, existia falcoaria na Noruega, foi na Idade do Ferro e no período Viking mas, a tradição não foi mantida viva devido a muitos fatores. Era para a elite, antigamente todos os falcões pertenciam ao Rei e ele oferecia-os a outros monarcas como celebração de alianças entre os reinos. A Noruega também caiu sob o domínio da Dinamarca, e da Suécia, e a única atividade mantida foi a captura de falcões. Mesmo isto foi em geral perdido para os noruegueses, pelo que falcoeiros e caçadores de outros países vinham à Noruega, com a permissão do Rei, para capturar falcões.

A falcoaria ainda não é suficientemente compreendida na Noruega e, por agora, não é uma atividade permitida.  Como algumas espécies estiveram perto da extinção devido à caça e ao uso de DDT, as leis voltaram-se para a sua proteção, proibindo toda a caça, a captura e a falcoaria. Curiosamente, foram as técnicas de falcoaria na reprodução que salvaram o falcão peregrino na Noruega, mas poucas pessoas conhecem essa história.

Em 2019, criei, com uma companheira caçadora e amiga Marthe Kjørkleiv Holgersen, pela primeira vez, um clube na Noruega, o Norsk Falkejakt Forbund (NFF), Associação Norueguesa de Falcoaria (NFA), para educar tanto o público como para ajudar outros interessados em falcoaria, como a Elisabeth fez comigo. Marthe é a minha aprendiza, e temos de a pôr a dar os primeiros passos! A NFA conta já com 30 membros, e as pessoas estão interessadas, alguma de forma generalista e outras que querem também dar início a esta prática.

Como a falcoaria é tão recente, a NFA vai abrir novos horizontes para a falcoaria norueguesa, e mais importante, trabalhar para a sua legalização. A Dinamarca é a nossa fonte de inspiração, que recuperou a legalização da falcoaria faz 2 anos, após uma proibição com mais de 40 anos. A história da falcoaria na Noruega é tão importante e rica, que não só será o nosso foco na educação, mas também para a incorporar na reabilitação através dos veterinários, e para informar os aeroportos sobre as possibilidades da utilização de métodos de falcoaria para questões de segurança.

Há mais de 7 anos atrás, segurei pela primeira vez uma ave na luva, surgiram muitas dúvidas quando percebi que não era permitido na Noruega, e hoje, eu sou presidente da NFA – é tão estranho pensar nisso. O apoio tem sido enorme, claro que, alguns não acreditaram, mas eu nunca desisti. A minha paixão pela falcoaria é tão forte, que se as pessoas me deixarem falar e se me ouvirem, terão uma nova noção daquilo que é a falcoaria, como é importante a muitos níveis, e para mim isso significa que devo estar a fazer algo correto. Estou ansiosa pelo trabalho árduo que virá, e espero que, no futuro, possamos levar a falcoaria de volta à Noruega. Começamos agora.

Edição: Direção do Grupo Feminino

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