A paixão pelo voo e aves de rapina – Marília Duarte

 

Meu interesse pela Falcoaria surgiu em 2003 quando fui pela primeira vez ao Badoca Park, e vi pela primeira vez uma demonstração de aves de rapina. Fiquei rendida à paixão e á vontade de conhecimento e prática da mesma.

Na altura era o Zé Pedro que lá estava, eu não sei como, apanhei uma oportunidade para falar com ele… e devo ter sido a pessoa mais chata do planeta a fazer-lhe perguntas sobre as aves. Sempre adorei animais e sempre tive muita curiosidade sobre o treino de animais, achei fascinante as aves sobrevoarem tão próximo das pessoas e elas poderem apreciar tudo ao pormenor. No ano a seguir voltei novamente ao Badoca Park ainda com mais dúvidas, resultado das várias pesquisas que fiz e ainda mais entusiasmada.

Nesse mesmo ano fui também à Feira Medieval de Leça do Balio onde vi também aves de rapina. Na altura falei com a pessoa responsável pelas aves e claro “enchi-o” de várias perguntas… e então já no fim da nossa conversa, perguntei – lhe se poderia passar 1 dia com ele para ver toda a dinâmica com os animais. Logo depois, ele convidou-me para ir a Marvão em outubro a uma Feira Islâmica, e eu lá fui. E foi assim, que embarquei nesta aventura de eventos medievais e outros com o Paulo Martinho (Diana Falco).

Na Falcoaria todos os dias há algo novo, há algo diferente e aprendemos sempre mais e mais. Aprendemos com os falcoeiros, aprendemos muito com as aves, aprende-se no controle biológico, no comportamento entre a presa e o predador, assim como na aprendizagem em caçadas de campo, embora eu tivesse feito muito pouco… quase não posso contabilizar . É sem dúvida cada vez mais urgente e importante aprender e partilhar a educação ambiental. A Falcoaria é Património Imaterial da Humanidade, e é importante que seja divulgada ao máximo para desmitificar muitos mal-entendidos. A Falcoaria é uma arte milenar, muitas coisas evoluíram e continuam a evoluir, graças a todos os falcoeiros que vivem e praticam diariamente esta arte.

A minha iniciação começou com o manejo das Aves de presa em 2004 numa feira temática em Marvão, daí para a frente, foi quase sempre em feiras temáticas de épocas e feiras de caça onde tive a oportunidade de ir para o campo com uma ave de presa e caçar. Participei em inúmeros eventos de Educação Ambiental e entretanto tirei o curso de cuidados veterinários em Refóios, Ponte de Lima.

Fiz o respetivo estágio e fiquei a trabalhar no Zoo da Maia com um leão marinho. Durante o tempo de trabalho fiz eventos com a minha ave Harris junto dos mais pequenos, na altura o Zoo não tinha aves de rapina…Depois dessa altura fui para as ilhas fazer controle biológico às gaivotas, onde estive algum tempo, e quando regressei, continuei a participar nos eventos medievais.

Entretanto, fui contactada para trabalhar no Zoo Santo Inácio, devido ao meu pequeno currículo, para a equipa de demonstrações do zoo. Onde trabalhei com aves de rapina, répteis, primatas, mamíferos e outras aves.

Aprendi muito durante o tempo que lá estive, é uma excelente escola!! Tenho muito a agradecer aos meus colegas, principalmente ao Bruno Alves e ao Pedro Ferreira.

Depois disto, continuei a fazer controle biológico no norte do país com o “Bosque Atlântico” onde também aprendi bastante, e agradeço desde já ao António Peixoto pela oportunidade . Entretanto, tive de fazer uma pequena pausa, espero eu… porque fui mãe…e outros valores se sobrepuseram.

Tive a sorte e o privilégio de ter oportunidade de voar um pouco de tudo. Todas as aves são diferentes, mesmo dentro da mesma espécie. Cada uma tem o seu carácter. E eu gosto disso, dos desafios que são impostos por elas, entender a ave e aprender com ela. Não há um ave preferida, tenho curiosidade sim, e vontade de um dia voar uma Harpia.

Apesar de haver um grande evolução na arte milenar, há sempre uma parte que preocupa todos os que lidam com aves de presa. É a facilidade de aquisição das aves por pessoas que não têm o mínimo de conhecimento sobre as rapinas.

Existem cada vez mais adeptos de aves de rapina… mas simplesmente para transformá-las em Pets. E nesse contexto, cometem-se às vezes ou quase sempre erros, e alguns deles até bastante graves e sem necessidade.

De modo a evitar essas fatalidades… existe A APF(Associação Portuguesa de Falcoaria) que tem um curso de iniciação a Falcoaria, para além de haver sempre pessoas (dentro da associação) dispostas a partilhar os seus conhecimentos e experiências com essas aves. Não havendo assim, necessidade de se criar animais ilegais ou não saber cuidar deles.

Eu continuo a aprender muito sobre a arte, agora ainda mais, com o Grupo Feminino da Associação Portuguesa de Falcoaria. Não desfazendo da associação em si e as suas iniciativas para o esclarecimento de dúvidas e entrevista sobre diversas áreas relacionadas com a Falcoaria.

Nos tempos de hoje, existe muita gente nova com grande interesse e paixão pela arte, que vem cheia de energia, com vontade de conhecimento e abertos a ouvir os mais sábios da arte, assim como, também há mais mulheres nesta prática .

As mulheres são tão capazes como os homens. A emancipação feminina foi em 1920, embora possamos ter mais um bocado de trabalho no nosso dia-a-dia, Somos Mulheres… Para Nós Nada é Impossível.

Texto: Marília Duarte para Falcoaria no Feminino

Edição: Direção do Grupo Feminino

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Quer saber mais sobre a Falcoaria: O que é a falcoaria?

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