A Associação Portuguesa de Falcoaria tomou conhecimento do comunicado do PAN relativo ao controlo de gaivotas realizado com aves de presa numa unidade hoteleira no Algarve. Neste comunicado, publicado no site oficial do partido, no dia 17 de agosto, pode ler-se: “ o PAN manifestou a sua indignação, por se tratar de um ato cruel e sem qualquer preocupação pelo bem-estar animal.”
Apesar de distinto da Falcoaria, o controlo biológico de animais com auxílio de aves de presa, é uma atividade que se baseia na utilização de técnicas desenvolvidas no âmbito da mesma (considerada Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO em Portugal em dezembro de 2016). O comunicado do PAN pode criar um precedente perigoso, de desinformação, que importa desconstruir.
Assim:
- Existe, em muitos contextos, a necessidade imperiosa de controlo das populações animais por questões de segurança ou saúde pública. Tal como nos principais aeroportos nacionais e mundiais, onde existe um efetivo de aves de presa treinadas para controlo de aves problema, também noutros locais a sua utilização poderá ser fundamental. No caso da espécie em apreço é importante referir que estudos em Portugal identificaram bactérias multirresistentes nas fezes de gaivotas[1]. Consideramos que será compreensível por todos, a necessidade de assegurar o seu controlo e a consequente segurança das pessoas neste caso.
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O objetivo do controlo biológico com auxílio de aves de presa é afastar as espécies alvo através da presença e ação de um predador. Quando comparado com outros métodos de controlo massivo (abate, destruição de ovos, etc) [2], esta é uma abordagem ecológica uma vez que na grande maioria dos casos os animais a controlar se afastam ao ver ou ser perseguidos pelo predador (tal como fariam na natureza). O número de capturas é baixo e o número de abates ínfimo (geralmente animais doentes ou não adaptados à sobrevivência). Este método é perfeitamente compatível com os princípios de bem-estar animal uma vez que todo o seu processo se baseia no afastamento, evitando o abate de animais, sofrimento prolongado ou desnecessário. Ao contrário do que o comunicado do PAN transmite, esta forma de controlo biológico tem grande eficácia quando comparada com a métodos passivos (como a emissão de sons de alarme, pex), mantendo o respeito pelas aves alvo de intervenção. Além disso, e tal como o PAN deveria ter e dar conhecimento, esta é uma atividade amplamente usada a nível mundial, com resultados francamente positivos e que conduz a uma convivência facilitada entre Homem e Natureza. Além disso este tipo de atividade é completamente legal, regulamentada por diretivas nacionais e internacionais e que carece do devido licenciamento junto do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (algo que o PAN também ignora).
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Por último e como nota mais relevante, alertamos que conotar a ação de um predador, auxiliado ou não pelo Homem, com um ato de crueldade, com a intenção de praticar o mal, abre um precedente perigoso. Com esta associação o PAN pode estar a ajudar a criar a noção de que estes animais tem uma natureza cruel ou que a sua sobrevivência implica a prática de crueldade para com as suas presas. Esta apreciação é errónea, não ajuda à conservação das espécies selvagens de aves de presa. Além disso ignora a necessidade etológica da caça inerente aos predadores e sobretudo traduz um entendimento distorcido sobre as interações naturais entre animais.
Esperamos, com este comunicado, contribuir para o cabal esclarecimento da opinião pública e saudamos a unidade hoteleira em causa pela adopção de uma forma de controlo animal ecológica e que prima pelo respeito pela natureza.
[1] http://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/gaivotas-sao-reservatorio-de-bacterias-multirresistentes-3315701.html [2] https://www.veterinaria-atual.pt/gaivotas-urbanas-uma-praga-impossivel-de-controlar/A Direcção da Associação Portuguesa de Falcoaria
18/08/2017